“Quando chegou a festa de Pentecostes, todos os fiéis estavam reunidos no mesmo lugar”. Assim começa o segundo capítulo do livro dos Atos dos Apóstolos que acabamos de ouvir. Também hoje, graças aos avanços técnicos, estamos reunidos, fiéis de toda parte do mundo, na vigília de Pentecostes.
O relato continua: “(…) de repente, um grande ruído que vinha do Céu, como de um vento forte, se ouviu de todos os lugares onde se encontravam, desceu sobre eles como línguas de fogo, e todos ficaram cheios do Espírito Santo”.
O Espírito Santo pousou sobre cada discípulo e sobre cada um de nós. Esse Espírito Santo, que é prometido por Jesus, vem nos renovar, nos converter e curar a cada um de nós. Vem curar os medos. E quantos medos nós temos! Vem curar as inseguranças e também as nossas feridas; as feridas que temos uns com os outros.
Vem também nos converter em discípulos missionários, testemunhas da coragem e da parresia apostólica que são necessárias para a pregação do evangelho de Jesus, como lemos nos versículos seguintes que isso aconteceu com os apóstolos.
Hoje, mais que nunca, precisamos que o Pai nos envie o Seu Espírito Santo. No capítulo primeiro dos Atos dos Apóstolos, Jesus disse aos seus discípulos: “Esperem que se cumpra a promessa que meu pai fez da qual eu vos falei. É certo que João batizou com água, mas dentro de poucos dias, vós sereis batizados pelo Espírito Santo” (v,4), e, no versículo 8, diz: “Quando o Espírito vier sobre vós, receberão o poder, e sairão para ser testemunhas de mim em Jerusalém e em toda região da Judeia e da Samaria, e até nas partes mais distantes da terra”.
O testemunho de Jesus, esse testemunho nos conduz ao Espírito Santo. Hoje, o mundo sofre, está ferido, vivemos num mundo que está machucado, especialmente os mais pobres que são descartados. Quando todas as nossas seguranças humanas desaparecem, o mundo precisa que Jesus seja levado, precisa do nosso testemunho do Evangelho, o evangelho de Jesus; e este testemunho só pode ser dado pela força do Espírito Santo.
Precisamos que esse Espírito Santo nos dê uma visão nova, abra a nossa mente e o nosso coração para enfrentar este momento e o futuro com aquilo que nós escolhemos: Somos uma só comunidade. Nós não nos salvamos sozinhos. Ninguém se salva só, ninguém!
São Paulo disse na epístola aos Gálatas: “Já não importa ser judeu ou grego, escravo ou livre, homem ou mulher, porque, todos, unidos a Cristo, somos um só corpo unidos pela força do Espírito Santo”. Por esse batismo que o Espírito Santo anuncia, nós sabíamos, mas esta pandemia que vivemos nos faz, de fato, experimentarmos de uma forma muito mais profunda.
Temos o dever de, daqui pra frente, construirmos uma realidade nova, o Senhor fará e nós podemos colaborar. “Eis que faço nova todas as coisas” (Ap 21,5).
Quando sairmos desta pandemia, não podemos seguir fazendo o que fazíamos antes nem da forma como estávamos fazendo. Tudo será diferente! Todo sofrimento não servirá de nada se não construirmos entre nós uma sociedade mais justa, mais equitativa, mais cristã, não de nome, e sim na realidade, uma realidade que nos leve a uma conduta cristã. Se não trabalharmos para terminar com a pandemia da pobreza neste mundo, com a pobreza no país de cada um, na cidade onde cada um vive, este tempo todo terá sido em vão.
Das grandes provas da humanidade, dentre elas a pandemia, devemos sair melhor do que pior, não podemos sair iguais.
E eu te pergunto: “Como você quer sair? Melhor ou pior?”. Por isso, hoje, nos abrimos ao Espírito Santo, para que seja Ele quem mude o nosso coração, para que possamos sair melhores.
Se não vivermos para sermos julgados, segundo o que diz Jesus: “Porque eu tive fome e me deram de comer, eu tive preso e me visitaram, fui forasteiro e me receberam” (Mt 25, 35-36), não sairemos melhores. E essa é a tarefa de todos nós. E também de vocês, os de CHARIS, que são todos os carismáticos unidos.
O terceiro documento de Malinas, escrito nos anos 70 pelo cardeal Suenens e pelo bispo Helder Câmara, que se chama: “Renovação Carismática Católica a serviço do homem”, marca o caminho e a corrente da graça. Sejam fiéis a este chamado do Espírito Santo!
Vem-me agora na memória as palavras proféticas de João XXIII quando anuncia que o Concílio Vaticano e a Renovação Carismática Católica atestam especialmente: “Que o Espírito Divino seja designado para ouvir as mais reconfortantes orações que sobe a Ele de todos cantos da terra; que renove em nosso tempo os prodígios como de um novo pentecostes e conceda que a Santa Igreja permanecendo unânime na oração, com Maria de Jesus, sob a orientação de Pedro, acrescente ao Reino de Deus, Reino da verdade e da justiça, Reino do amor e da paz”.
A todos vocês, nesta vigília, eu lhes desejo a consolação e a força do Espírito Santo, para que possamos sair deste momento de dor, de tristeza e de prova, que é a pandemia. Que possamos sair melhores!
Que o Senhor vos abençoe e que a Virgem Mãe vos guarde!
Papa Francisco
30 de maio de 2020